Resumo
Introdução: Durante o período da gravidez e da amamentação a mulher vivência mudanças fisiológicas, psicológicas e de ordem estrutural, essas mudanças podem trazer alterações na sexualidade feminina, devendo os profissionais de saúde ter uma atenção especial as suas necessidades particulares e com direitos sexuais.
Objetivo: Conhecer as representações que os acadêmicos de enfermagem possuem acerca da sexualidade durante a amamentação.
Método: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória. Participaram da pesquisa 16 acadêmicos de Enfermagem de uma universidade pública do interior da Bahia, Brasil. Para coleta dos dados empíricos foi utilizado à técnica projetiva de desenho-estória com tema e analisados mediante a técnica de análise de conteúdo.
Resultado: Após análise, revelaram-se três categorias: sentimentos e desejos sexuais adormecidos devido à atenção dispensada para o bebê e os afazeres domésticos; sexualidade representada pela demonstração de amor, apoio, companheirismo, dedicação e respeito à mulher durante o período de amamentação e interferências na sexualidade permeada pelo comprometimento da autoimagem e autoestima da mulher.
Conclusão: Conclui-se que a amamentação e a sexualidade foi percebida pelos acadêmicos de enfermagem através de conceitos estabelecidos socialmente, vivenciados ou não, assim é de extrema importância à abordagem desse tema na formação dos profissionais de saúde, para que possam descontruir alguns tabus enraizados durante a sua construção social.
Palavras-chave: Amamentação; Enfermagem; Sexualidade
Resumen
Introducción: Durante el período de embarazo y lactancia, las mujeres experimentan cambios fisiológicos, psicológicos y estructurales. Estos cambios pueden provocar cambios en la sexualidad femenina, por lo cual las personas profesionales de la salud deben prestar especial atención a sus necesidades particulares y derechos sexuales.
Objetivo: Conocer las representaciones que la población estudiantil de enfermería tiene sobre la sexualidad durante la lactancia.
Método: Se trata de una investigación cualitativa, descriptiva y exploratoria. Dieciséis estudiantes de Enfermería de una universidad pública del interior de Bahía, Brasil, participaron de la investigación. Para recolectar los datos empíricos, se utilizó la técnica proyectiva de dibujo-cuento con tema y se analizó mediante la técnica de análisis de contenido. Resultado: Después del análisis, se revelaron tres categorías: sentimientos y deseos sexuales latentes debido a la atención al bebé y las tareas del hogar, la sexualidad representada por la demostración de amor, apoyo, compañerismo, entrega y respeto a la mujer durante el período de lactancia, e interferencia en la sexualidad permeada por el compromiso de la propia imagen y autoestima de la mujer.
Conclusión: Se concluye que la lactancia materna y la sexualidad fueron percibidas por las personas estudiantes de enfermería a través de conceptos socialmente establecidos, experimentados o no. Por lo que, es de suma importancia abordar este tema en la formación de las personas profesionales de la salud, para que puedan deconstruir algunos tabúes arraigados durante su desarrollo social.
Palabras clave: Lactancia Materna; Enfermería; Sexualidad
Abstract
Introduction: During the period of pregnancy and breastfeeding, women experience physiological, psychological, and structural changes; these changes can impact their sexuality. Health professionals should pay special attention to their particular needs and sexual rights.
Objective: To understand the perception that nursing students have about sexuality during breastfeeding.
Method: This is qualitative, descriptive, and exploratory research. Sixteen nursing students from a public university in the interior of Bahia, Brazil participated in the research. To collect the empirical data, the projective technique of drawing a story about a given theme was used and the result was analyzed using the technique of content analysis.
Result: After the analysis, three categories were revealed: dormant sexual feelings and desires due to the attention given to the baby and household chores; sexuality represented by the demonstration of love, support, companionship, dedication, and respect to women during the period of breastfeeding; and sexuality interference permeated by the commitment of the woman's self-image and self-esteem.
Conclusion: It is concluded that breastfeeding and sexuality were perceived by nursing students through socially established concepts, experienced or not. Therefore, it is extremely important to approach this topic during the training of health professionals to help them deconstruct those socially ingrained taboos.
Keywords: Breastfeeding; Nursing; Sexuality
Introdução
A amamentação tem fundamental importância na saúde e no desenvolvimento da qualidade de vida da criança, da mulher, da família e do meio ambiente. Comprovações científicas demonstram que o aleitamento materno praticado nos primeiros 6 meses de vida de forma exclusiva e complementada até os dois anos de idade, transforma positivamente o desenvolvimento infantil, atuando na prevenção de doenças na infância e na vida adulta, além de colaborar para a criação do vínculo entre mãe e filho. 1,2,3
A mulher durante o período de amamentação sofre em seu corpo mudanças fisiológicas, psicológicas, sexuais e sociais, junto a isso existe uma necessidade de se adaptar as novas rotinas e demandas que exigem a chegada de um filho. É perceptível que com essas alterações significativas a sexualidade feminina pode vir a ser afetada, por isso deve-se assistir essa mulher de forma integral, não apenas como mãe, mas também como um indivíduo com suas necessidades particulares e com direitos sexuais.4
A sexualidade é estabelecida aos poucos na vida do ser humano, pois ela é construída ao longo dos anos, sendo influenciada por processos culturais, representações sociais, a própria percepção sobre o corpo, os contextos históricos em que se está inserindo, fatores emocionais, representações familiares, símbolos e tabus.5 Pode ser definida também, como a forma que o indivíduo desenvolve para manter as relações pessoais, as representações dos sentimentos e prazeres, levando em conta a exclusividade de cada ser humano.6
A aproximação com o tema da pesquisa se deu através do desenvolvimento de ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno às mulheres e seus familiares que vivenciam a sexualidade durante a amamentação, por meio de atividades realizadas no Núcleo de Pesquisa e Extensão em Aleitamento Materno (NEPEAM), do Departamento de Saúde II da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) nas quais foi possível identificar a necessidade de abordar o cuidado dos estudantes na vivência da sexualidade durante a amamentação.
O NEPEAM vem contribuindo de sobremaneira para o cuidado às famílias que vivenciam o aleitamento materno, seja em maternidades, unidades básicas de saúde, ou promovendo cursos sobre manejo clínico e aconselhamento em amamentação. Durante as abordagens realizadas, especialmente, com estudantes do curso de graduação em enfermagem, identificou-se que eles apresentam dificuldades em lidar com as questões que envolvem a sexualidade durante a amamentação. Entretanto, é sabido que a vivência da sexualidade faz parte das necessidades humanas básicas do ser humano em todos os ciclos de sua vida, em especial durante a amamentação, devendo este tema estar incluído na Sistematização do Cuidado de Enfermagem, para garantir a vivência da sexualidade durante a amamentação.
Dentro desse contexto, o estudo tem grande relevância social, pois existem poucas pesquisas que abordam a influência da amamentação na sexualidade. Ademais, constatou-se ausência de estudos que abordem as representações dos acadêmicos. Sendo assim, é imprescindível, que existam pesquisas que abordem as alterações na sexualidade de um casal durante a amamentação. Assim, será possível entender e respeitar a individualidade e complexidade desse tema e ajudá-los com maior propriedade e humanização, durante o cuidado desta categoria profissional.
Considera-se de extrema importância captar a representação que os estudantes de enfermagem possuem acerca da sexualidade durante a amamentação, pois enquanto futuros profissionais, eles devem estar aptos a fornecer orientação, apoio, incentivo e sanar as dúvidas referentes a sexualidade e amamentação, possibilitando que o ato de amamentar seja uma prática prazerosa, oportuna e efetiva para as mães e bebês. Ainda, deve-se levar em consideração que a maior parte do cuidado prestado às famílias durante a amamentação é realizada pelos/as enfermeiros/as.
Compreender os conceitos e saberes dos acadêmicos de enfermagem sobre a sexualidade e amamentação, fez surgir à questão de pesquisa: Qual é a representação que os acadêmicos de enfermagem possuem, acerca da sexualidade durante o processo de amamentação? No intuito de obter resposta a questão desta pesquisa elaborou-se o objetivo, conhecer as representações que os acadêmicos de enfermagem possuem acerca da sexualidade durante a amamentação.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória. A pesquisa de caráter qualitativo busca analisar e compreender de forma mais aprofundada o tema que está sendo estudado, através de uma interpretação dos dados obtidos com os participantes, não se preocupando com representatividade numérica ou estatística.7
O processo de coleta de dados foi realizado entre os meses de abril e maio de 2021, de forma online devido à pandemia da COVID-19 vivenciada no período. Inicialmente, foram convidados para participar do estudo 25 acadêmicos do curso de Enfermagem de uma universidade estadual do interior da Bahia/Brasil, entre o primeiro ao oitavo período, destes apenas 16 aceitaram, sendo dois acadêmicos escolhidos por semestre. No entanto, dois foram excluídos por não terem realizado o desenho, totalizando 14 participantes. Para a seleção da amostra foram considerados os seguintes critérios de inclusão: estar efetivamente matriculado na instituição; cursar entre o 1º (primeiro) ao 8º (oitavo) semestre do respectivo curso e ter idade superior a 18 anos. Como critérios de exclusão: a não apresentação do desenho estória. Para coleta dos dados empíricos foi utilizado a técnica projetiva de desenho-estória com tema, que tem o propósito de reunir e utilizar as informações obtidas para compreender o conhecimento do entrevistado. A aplicação dessa técnica baseia-se em solicitar que o participante desenhe algo sobre o tema pesquisado, ao fim do desenho pede-se que conte uma estória para o desenho e que seja intitulado.8
Desse modo, solicitamos que cada participante desenhasse em uma folha de papel, a primeira imagem que surgisse em sua mente ao pensar em sexualidade durante a amamentação e que em seguida escrevesse o que aquela imagem representava para ele. A aplicação da técnica durou em média 30 minutos, sendo realizada em diferentes momentos de acordo com a disponibilidade de horário de cada participante. Os resultados obtidos foram submetidos à técnica de análise proposta por Coutinho: observação sistemática dos desenhos; leitura flutuante do conteúdo obtido; seleção dos desenhos por semelhança e/ou aproximação do tema8. Para análise dos textos escritos utilizou-se a técnica de análise de conteúdo temática proposta por Bardin, obedecendo às etapas de pré-análise, exploração do material, tratamento dos dados, interpretação e inferência.9
A realização da pesquisa respeitou as normas estabelecidas pela Resolução nº 466, de 12 de dezembro, do Conselho Nacional de Saúde (CNS) do Brasil, que aborda as questões éticas e profissionais para a pesquisa com seres humanos, o estudo teve o projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UESB (CEP/UESB), recebendo parecer favorável de nº 3.233.430 e CAAE 07376818.1.0000.0055. Em consonância, a participação no estudo efetuou-se após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Resultados
Foram entrevistados 16 acadêmicos de enfermagem, com faixa etária entre 20 e 38 anos, sendo 05 do sexo masculino e 11 do sexo feminino. Importante ressaltar que, duas entrevistas não foram utilizadas, pois as respostas fugiram do tema proposto, portanto, os resultados apresentados foram baseados nos depoimentos de 14 acadêmicos/as.
Ao expressar seu olhar sobre a sexualidade durante a amamentação, as falas dos acadêmicos revelaram três categorias apresentadas a seguir:
CATEGORIA 1 - Sentimentos e desejos sexuais adormecidos devido à atenção dispensada para o bebê e os afazeres domésticos
Nesta categoria, os acadêmicos trouxeram relatos que revelam que durante o processo de amamentação, os sentimentos e desejos sexuais ficam sob segundo plano, sendo que a atenção da mulher está voltada para o bebê e os afazeres domésticos (Figura A).
Na unidade de análise, é perceptível que a ideia da amamentação e a relação de uma mãe com esse fato é de exclusividade onde, o bebê passa a ser o centro das atenções de sua rotina assim, a sua individualidade como mulher acaba ficando silenciada. O cansaço também foi citado como um fator negativo, pois com as novas demandas que surgem ao ser mãe, juntamente com os trabalhos domésticos que ela realiza e a responsabilidade de cuidar do companheiro, existe o cansaço físico e emocional comprometendo na sua sexualidade.
CATEGORIA 2 - Sexualidade representada pela demonstração de amor, apoio, companheirismo, dedicação e respeito à mulher durante o período de amamentação
Nas unidades desta categoria, foi perceptível que para a maioria dos acadêmicos a sexualidade está diretamente relacionada com amamentação em forma de sentimentos como amor e respeito e também em atitudes do seu companheiro como apoio, dedicação e companheirismo (Figura B).
Esses depoimentos revelam a sexualidade como um conjunto de ações e sentimentos onde o ato sexual não rege completamente esse termo. Visto isso, há um envolvimento de emoções e são regidas por amor. Durante a amamentação é de extrema importância o apoio familiar, pois é um item essencial para que a mulher se sinta acolhida nesse período.
CATEGORIA 3 - Interferências na sexualidade permeada pelo comprometimento da autoimagem e autoestima da mulher
Dentro desta categoria estão elencados os desenhos e interpretações que revelaram fatores que interferem na sexualidade feminina, devido às modificações nas concepções de autoimagem e autoestima da mulher (Figura C).
Ao realizar a análise dessas entrevistas, é notável a relação do seio com a amamentação tendo como característica a erotização, sendo perceptível que o ato de oferecer o seio para o bebê pode ser sexualizado. Além disso, é nítida a concepção que o seio é uma parte delicada do corpo feminino, e ligado a isso, existe a ideia que ele é desejado sexualmente pelo homem. Importante ressaltar que a questão da nudez dessa parte do corpo feminino, ao precisar dar de mamar, é um tema que está intimamente ligado quando se relaciona sexualidade e amamentação.
Nos depoimentos, os acadêmicos relataram a influência da autoestima, da autoimagem e das mudanças fisiológicas, corporais na sexualidade materna. Ainda dentro desse contexto, é notável a concepção que a prática da amamentação pode ser prejudicada quando a mulher não consegue estabelecer uma relação harmônica com as modificações do aspecto físico.
Discussão
Quando nasce uma criança surgem novos desafios para vida da família, como a adaptação a novos papéis, a modificação da rotina e a nova formação da composição familiar que podem influenciar na sexualidade femenina.10 Além disso, existem os desafios pessoais da mulher onde o processo de gestação e as modificações do seu corpo podem interferir em sua autoimagem, o aumento da demanda de trabalho com as preocupações advindas das novas responsabilidades, podendo ocasionar diminuição da libido, e a atenção que um bebê exige, pode fazer com que a sexualidade fique em segundo plano,10 tais constatações, vem corroborar com os resultados encontrados neste estudo.
Estudo aponta que a sexualidade em si é cheia de complexidades, a partir do momento que há uma mudança significativa na rotina de um casal, começa a ser perceptível as alterações nesse aspecto. A amamentação é muitas vezes exaustiva para a mulher, isso pode ocasionar a diminuição do bem-estar biológico e psicológico podendo então, interferir na relação conjugal e familiar.11
Ademais, associado a esses fatores existem as alterações fisiológicas, emocionais e sociais que ocorrem nessa mãe, além das tarefas diárias e o cuidar do filho, que somando-se a isso contribui para causar desmotivação da mulher para a relação sexual e sua própria sexualidade.11
Além disso, o ser humano pode demonstrar sexualidade de diversas maneiras devido a seu conceito ser amplo e de diversas concepções. Ela pode ser expressada através da sensualidade, da relação corpo a corpo, de ações e momentos que revelam carinho, desejo e interesse físico, é extremamente rodeada de especificidades. Além disso, é sabido que a questão psicológica e emocional está ligada a sexualidade, onde vivenciá-la está além do ato sexual, pois o afeto está em evidência mesmo que não seja notável. 4
Não obstante, enfatizar que a partir do momento que essa mãe se sente acolhida por seu parceiro, ela sente-se segura, tranquila e com um bem-estar emocional melhor, podendo assim influenciar positivamente em sua sexualidade.12 Nos depoimentos, ficou evidente que os acadêmicos consideram a família como rede de apoio e amor onde se estabelece o vínculo familiar. Ademais, a demonstração de carinho, companheirismo e cuidado no processo de amamentar surge como uma forma de minimizar o desinteresse da mulher para a relação sexual.
Ao longo do tempo, a sociedade estabeleceu em suas culturas que a amamentação é um ato de amor, onde a mãe é totalmente responsabilizada para cumprir essa ação. Sabe-se que em algumas situações emocionais, caso a mulher não consiga ou não queira amamentar o filho, as pessoas em sua volta acabam insinuando que isso pode interferir em seu papel como boa mãe.13 Nos depoimentos, foi notável a relação da amamentação com o forte vínculo criado entre mãe e filho, a mãe como figura principal desse processo, além da junção de sentimentos bons, como amor materno.
Além disso, a amamentação pode ser um processo dolorido podendo ocorrer o surgimento de fissuras, ingurgitamento, dores nas mamas e outras manifestações naturais do corpo da mãe, assim pode haver experiências que são capazes de frustrá-la em relação à ideia construída no seu processo de gestação.13 Outro fato apontado pelos acadêmicos é com relação ao desequilíbrio emocional que pode ocorre, devido aos medos, dores e dúvidas no processo de amamentar. Perceberam ainda, a construção pessoal da ideia do aleitamento como um gesto de grandiosidade e momentos especiais e únicos.
Além disso, o aleitamento materno é considerado socialmente como um ato espontâneo e natural específico do sexo feminino, é um padrão estabelecido de cuidado à criança e fundamental na maternidade. Porém, é importante ressaltar que mesmo sendo um status estabelecido, a mulher vivencia temores e anseios sobre a amamentação dentro do ambiente social em que está inserida. Portanto, deve-se acolher essa mãe e valorizar os esforços, desafios e problemas enfrentados para assumir o propósito de cuidar do filho.14
Durante décadas a sociedade enraíza em diversas culturas os tabus e preconceitos com relação à sexualidade, isso não é diferente com a erotização dos seios. As mamas femininas são caracterizadas por um aspecto sensual e de motivo de excitação sexual, porém, esse pensamento anda ao lado da concepção dos seios relacionado à maternidade e ao ato de alimentar. Com isso, existe uma linha tênue entre essas duas ideias, assim essa ambiguidade do erótico e do nutrir pode comprometer a sexualidade feminina, consequentemente conjugal.4
Diante disso, o seio materno pode ter uma contribuição negativa na sexualidade feminina, que devido às alterações em seu corpo, decorrente do processo de gravidez, pode desenvolver sentimento de insegurança em relação ao companheiro. Dentro desse aspecto, outro fator que pode interferir é a presença do leite, que pode incomodar e fazer com que a mulher não se sinta confortável em relação a sua sexualidade.15
Alguns acadêmicos relataram que para a maioria das mulheres é necessário um espaço isolado, adequado para amamentar por não se sentirem confortáveis de amamentar em público, devido a diversos inconvenientes que podem ocorrer. Nesses casos, os fatores que influenciam para que a mãe se sinta constrangida em amamentar em público, são extremamente relacionados aos tabus estabelecidos dentro da sociedade, onde o corpo da mulher é sexualizado e objetificado.16 Dessa forma, a mulher passa por situações desconfortáveis, pois, grande parte das pessoas ao redor fica olhando, a incriminando ou sem jeito, com isso percebe-se que um dos principais motivos de incômodos é devido à mama ser caracterizada como um dos principais órgãos sexuais feminino.16
O corpo está intimamente ligado à sexualidade, já que ele é um dos meios que permite sua manifestação. Essas são construções sociais interligadas, porém a sexualidade não se resume ao corpo físico, que está assim entrelaçada com crenças, tabus e conjecturas sociais. Dessa forma, as transformações que ocorrem na ordem corporal feminina durante o processo de gestação e amamentação, entrelaçadas com as alterações hormonais, acabam interferindo em sua sexualidade, além da percepção do próprio corpo, de si como mulher e sua subjetividade.16
Durante o período de amamentação a mulher pode sentir insegurança e desconforto com sua autoimagem afetando seu estado emocional, ocasionando uma baixa autoestima. É perceptível que as principais reclamações são relacionadas ao aumento da forma abdominal, devido à gestação, além do aumento das mamas por causa do leite materno. Sabe-se que em grande parte dos casos, são alterações corporais momentâneas, mas que podem influenciar negativamente na sexualidade feminina por não se adaptar a essas modificações.17
É essencial que os profissionais de saúde, como os enfermeiros, realizem ações educativas durante todo pré-natal esclarecendo para essa mãe, as modificações e processos pelo qual irá passar. Importante ressaltar a necessidade de o profissional incentivar e apoiar as decisões tomadas pela mulher, além de orientá-la e ensinar os processos técnicos. Para que haja essas ações educativas deve-se buscar fundamentação teórica, clínica e desenvolver a habilidade de comunicação. É imprescindível o incentivo da participação da família dentro do processo de aleitamento materno para que a mãe se sinta em uma rede de apoio e, consequentemente, confortável com as mudanças em sua vida.18
Conclusão
Com relação à sexualidade da mulher durante o processo de amamentar, nota- se que para os entrevistados a questão sexual fica de lado, devido à sobrecarga de trabalho, como os afazeres domésticos, junto com a atenção exclusiva exigida por um bebê. A sexualidade também foi representada pela relação de companheirismo, amor, dedicação e respeito à mulher durante o período da amamentação, ficando evidente a importância da figura do parceiro e da família nesse processo.
Além desses aspectos, surgiu a questão da aceitação da mulher sobre sua autoimagem durante a amamentação, podendo interferir negativamente na autoestima, e consequentemente, na sexualidade. As modificações que ocorrem no corpo devido ao processo natural da gestação e amamentação podem causar danos emocionais, e assim, modificar a concepção sobre si.
Dessa forma, é notável que as representações sobre a sexualidade e amamentação dos acadêmicos de enfermagem seguem uma linha lógica de raciocínio, porém que diferem em algumas ideias. É perceptível então, a necessidade de um estudo mais profundo sobre o assunto dentro do curso, para que assim, quando tornarem-se profissionais tenham, ao menos, uma fundamentação teórica básica para orientar a mulher e, também, a sua família.
DECLARAÇÃO DE CONFLITO DE INTERESSE
Os autores declaram não possuir conflito de interesse de qualquer natureza relacionado ao artigo.
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Datas de Publicação
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Data do Fascículo
Jul-Dec 2023
Histórico
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Recebido
10 Dez 2021 -
Aceito
06 Fev 2023